Vamos começar com Osho ?
Este
livro é um soco no estômago! Impossível ficar indiferente. É
polêmico, instigante, lógico, ácido ao mesmo tempo. Nasceu a
partir da junção de várias passagens de palestras proferidas por
Osho. Nelas, Osho não poupa as religiões e os poderosos de todo o
mundo, por imporem regras anti-naturais, que aprisionam corpo e
mente. Gênio e louco, Osho abala estruturas a falar de temas tão
simples e ao mesmo tempo tão delicados, de forma contundente.
No livro,
Osho ensina que maltratamos nosso corpo em demasia, enquanto
deveríamos estar cuidando dele com carinho, porque faz
parte de nós, é dádiva divina que nos conduz por toda a vida. O
corpo não é a pessoa, apenas a forma. Como parte integrante de um
todo, deve ser tão amado quanto amamos nossa mente, nossas
potencialidades, nossas capacidades.
Devemos
estar atentos ao corpo e às mensagens que nos envia. Ele é sábio,
conhece seus limites, suas capacidades, suas dificuldades. Sabe
quando parar e quando pode continuar. Segundo Osho, quando começarmos
a entendê-lo, a grande parte de nossos problemas desaparecerão.
Então, Osho exemplifica de maneira emblemática: uma criança chora
de fome, mas ainda não está na hora de mamar. O pediatra mandou que
ela fosse amamentada de três em três horas e, como ainda não
chegou a hora certa, a mãe tenta acalmá-la, balançando-a,
cantando, dando a chupeta. A criança acaba adormecendo, pois está
exausta. Depois de alguns minutos a mãe a acorda para mamar, porque
então chegou a hora correta! Claro, a criança se perturba, começa
a ter seu ritmo natural destruído, modificado. Outra história,
muito comum, que acontece em milhares (para não dizer milhões!) de
lares atualmente: marido e mulher se vêem na obrigação de manterem
relações sexuais com certa frequência, porque é assim que a
sociedade os exige. Existe até pesquisas , ditas sérias, feitas com
o intuito de descobrir-se qual é a frequência ideal para fazermos
sexo! Esse casal, então, religiosamente, faz sexo duas vezes por
semana, terças e quintas feiras...Que droga, não é? Ele começa a
achar que já não ama a mulher, porque não tem o mesmo desejo do
início do namoro. Ela se sente fria, porque não chega ao orgasmo.
Sente-se culpada. Ele procura novas experiências fora do casamento,
ela talvez também faça o mesmo...O rolo está feito, o circo está
armado!
Quando
você tem fome, deve comer! Isso não quer dizer empanturrar-se de
comida e sim matar a fome, nutrir o corpo. Quando tem sono, deve
dormir, descansar, relaxar. Porque não? Ah, porque nosso dia a dia
nos impõe atitudes contrárias ao que desejamos. Mas, afinal, quem
manda em quem? Você vive correndo atrás do dinheiro, se alimentando
mal, tendo noites sem dormir por causa dos relatórios que não
entregou, por causa da concorrência ou sabe-se mais o que, para
poder ter um momento de descanso no final da vida? Ah, você trabalha
muito agora para, quando não tiver mais energia, fazer tudo que não
fez a vida toda, isso se conseguir juntar todo o dinheiro necessário?
Ah, entendi...Quer dizer, não entendi...Nada contra o trabalho,
obviamente, porque é bom trabalhar, bom quando te traz tudo que você
deseja sem que você precise morrer um pouco a cada dia...
“Siga o
corpo. Nunca, em hipótese alguma, tente dominá-lo (…). O corpo
diz “Pare! Não coma mais”, e você continua comendo, pois está
ouvindo a sua mente. A mente diz: “Está muito gostoso, uma
delícia! Quero mais.”O corpo já está enjoado, o estômago está
gritando “Pare! Já chega, estou cansado!”, mas a mente continua:
“Puxa, que sabor incrível, vamos, só mais um pouquinho”. (p. 21).
O corpo
não é você, mas compõe você. Marias, Antônios, Josés, todos
são corpo e mente, funcionado em harmonia. Quando a mente sofre, o
corpo também sofre. Quando o corpo sofre, a mente sofre também. Se
você tomar uma bebedeira, o que acontece realmente? O álcool vai
para o seu corpo, mas sua mente fica atrapalhada, confusa, sem
censura. E se você pensar em questões de cunho sexual, o que
acontece com seu corpo? Reage instantaneamente, para os homens, de
uma forma um pouquinho mais “disfarçada”(por falta de outro
termo no momento!), para a mulher. Não somos um processo fisiológico
ou psicológico apenas. Somos ambos ao mesmo tempo.
Conforme Osho, “Muitos
problemas são psicossomáticos, porque corpo e mente não são
coisas distintas. A mente é a parte interior do corpo e o corpo é a
parte exterior da mente. Portanto, qualquer coisa pode começar no
corpo e invadir a mente ou vice-versa."(p. 25). E, “Não são os
sintomas que devem ser tratados, mas as pessoas. E as pessoas são
orgânicas, são completas. (p. 28).
Sobre
a felicidade, infelicidade e condicionamentos que nos destroem
“O único dever que você tem é o de ser feliz. Faça disso uma
religião. Se não é feliz, não importa o que faça, algo deve
estar errado e alguma mudança drástica se faz necessária. Deixe
que a felicidade decida. ”( p. 29).
“Portanto, sempre observe o que acontece quando faz alguma coisa:
se ficou em paz, tranquilo, à vontade, relaxado, aquela era a coisa
certa a fazer. Esse é o critério, nada mais. É importante
lembrar-se, contudo, de que aquilo que é certo para você pode não
ser para outra pessoa." (p. 29)
Deixa eu ver...Onde é mesmo que já ouvi isso? Tenho certeza que já
li...Ah, no livro A Lei da Atração, de Esther e Jerry Hicks... Das
duas opções, escolhamos uma: ou existe um complô para dominar o
mundo, complô este que tem como cérebros autores de livros
relacionados ao bem estar, enfurecidos, querendo acabar com a raça
humana ou...ou esses caras tem razão! Não é interessante achar o
mesmo pensamento provindo de pessoas diferentes? Pode ser
coincidência...É, pode...Mas, não sei vocês, mas eu não gosto de
coincidências, acho que nada explicam. Inconsciente coletivo? Talvez...Cada um explica da forma como lhe cai melhor. Cientistas
buscam “pela prova”, religiosos acreditam, simplesmente. Eu não
me encaixo em nenhum desses grupos, mas acho interessante. Acho, na
verdade, que é completamente lógico. Porque viríamos para esse
mundo a não ser para buscar nossa felicidade e permitir a
materialização da felicidade dos outros?
Osho relata alguns motivos para a infelicidade humana, tais como a
forma como somos criados e a inveja alheia. Segundo ele, desde cedo
as crianças aprendem que recebem muita atenção quando estão
doentes. Quem, enquanto criança, nunca fingiu que estava doente ou
aumentou suas dores que jogue a primeira pedra...Ocorre que é isso
mesmo. Nós mimamos as crianças doentes de tal forma que elas
entendem a mensagem: é bom estar doente, infeliz, porque a doença
me traz a atenção dos adultos. Veja: “Desde a mais tenra
infância, a criança aprende a fazer política. A política é:
pareça infeliz e irá atrair simpatia, todos serão atenciosos.
Pareça doente e ficará importante. A criança doente fica
prepotente: toda família deve lhe obedecer, o que quer que diga se
torna lei. Quando ela está feliz, ninguém a ouve. Quando está
saudável, ninguém liga para ela. Quando está perfeita, ninguém
lhe dá atenção. Desde o começo, optamos pela infelicidade, pela
tristeza, pelo pessimismo, pelo lado sombrio da vida."( p. 30).
Já a inveja diz respeito a temermos a felicidade em razão de
criarmos sentimentos negativos em outras pessoas. Elas se tornam
hostis, até inimigas de quem é feliz. E Osho completa: “Que tipo
de sociedade é essa em que é permitido se sentir infeliz mas que
acusa aqueles que estão em êxtase de loucos e sem juízo? Por
causa da inveja, tentamos, de todas as maneiras, possíveis, impedir
o êxtase dos outros. Chamamos a tristeza de normalidade."( p. 31).
Diga-me agora: é ou não um soco no estômago? Osho completa dizendo
que quem está feliz não vai a guerra, porque não há sentido em
nos matarmos uns aos outros. Também não tentaríamos acumular tanto
dinheiro. “Se as pessoas estiverem em êxtase, todo o padrão dessa
sociedade terá de mudar. A sociedade existe por causa da
infelicidade. A infelicidade é um grande investimento para ela. É
para isso que criamos filhos: desde a mais tenra infância,
fomentamos uma tendência para a infelicidade." (pgs.31-32 ). Se não
fosse essa tendência, existiriam os preconceitos, os medos
infundados do que nos é diferente?
Conforme Osho, a infelicidade não é natural, mas nós temos feito
um grande trabalho: a alcançamos completamente. Ele diz para
pensarmos, toda vez que nos sentimos infelizes, que as coisas não
precisam ser assim, que esta é uma escolha nossa. E mais: “Os
pretensos gurus só existem porque você é um tolo. Primeiro cria a
infelicidade e depois sai perguntando aos outros como se faz para não
criá-la."( p. 33).
Essa é, creio, a parte mais genial de todo livro. Claro, faça seu
próprio julgamento, mas achei incrível. Não é correto o que ele
disse? Nós mergulhamos na infelicidade de cabeça: de manhã cedo
lemos o jornal, começando pela parte policial. O que lemos ali?
Desgraças, obviamente. Lemos enquanto tomamos nosso café . Não
sentimos o gosto da comida, porque estamos atentos àquelas desgraças
já faladas. Nos empanturramos no café da manhã, porque o almoço
irá demorar. Então, trabalhamos como burros de carga, durante 10,
15 horas ao dia para ganharmos dinheiro que será usufruído dali a
40 anos, quando nos aposentarmos. A noite, para relaxar, ligamos a TV
na novela e sofremos com as desventuras de casal apaixonado, que
teima em nunca se encontrar. Vamos dormir com dor de cabeça porque
tivemos muito estresse durante o dia e, ainda por cima, muitas vezes
não dormimos: viramos a noite acordados. É mole ou você precisa
ainda de mais? Chega um momento em que nosso corpo, nossa mente,
dizem basta. E, catapluft! Caímos duros, de cama, doentes, cada vez
mais infelizes!
Osho, em sua genialidade, ou loucura, como disse anteriormente,
volta-se contra as religiões. Veja bem: ele se volta, não eu. Acho
que toda e qualquer forma de expressão que te faça sentir bem, em
paz, é válida. Religião, auto-ajuda, Psicanálise, corridas no
parque, sei lá...Tudo que for bom para nós e que não interfira na
vida do outro é bom o suficiente para ser vivido, e dane-se a
opinião dos outros! Isso é o que eu acho, mas também acho que Osho
tem razão quando diz que de certa forma as religiões também levam
à infelicidade quando pregam sobre renúncia, sobre a nocividade da
entrega aos prazeres do corpo, aos prazeres da vida...Eu nasci com
meu corpo, eu o respeito e cuido dele. Ele não é meu inimigo, não
tenho vergonha dele. Ele sou eu! Preciso renunciar aos prazeres
terrenos para chegar ao céu? Quem disse que se eu tiver prazer com a
vida estarei agindo contra os desígnios de Deus?
Por Cl Mester